Pode um candidato a um lugar importante,
como o de secretário-geral da ONU, entrar a meio do processo de seleção (enfim,
chamam-lhe “escrutínio indicativo”), responder como que apenas às três
perguntas do fim (e corrigir as de um concorrente antecessor) e ser aprovado
com distinção e proveito? Pelos vistos, pode.
Kristalina Georgieva pode ser um caso
muito pouco cristalino. O The Guardian explica
como e porquê. Anda Guterres há já cinco sessões a dissertar e a responder
a perguntas perante o Conselho de Segurança com o objetivo de conquistar o
lugar – a “suar as estopinhas”, portanto – tendo já
conseguido ficar muito perto, para alguém sacar agora da cartola uma búlgara
eventualmente mais bem preparada do que a candidata sua compatriota Irina
Bokova e, fresca que nem uma alface, ganhar o concurso. Isto merece um
ponto de exclamação! Se ganhar, e atendendo às excelentes prestações de
Guterres, Kristalina consegui-lo-á por duas razões principais: porque é mulher
e porque “alguém” entende que o próximo secretário-geral tem que provir do
leste da Europa.
Dir-me-ão que Guterres está
perfeitamente a par das contingências deste processo e que, inclusivamente,
poderia ser ele a colocar-se na posição de Georgieva. Poderia não ter ido a
jogo até ver quem por lá andava e em que paravam as modas. Poderia, mas seria
bizarro. As regras estão então muito erradas. Porquê começar formalmente o
escrutínio sem estarem todos presentes? E, já agora, porquê o escrutínio
sequer, quando tudo se decide entre os chefes dos cinco países membros
permanentes, com direito de veto?
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