A vida dá muitas voltas, e o destino às vezes escreve direito por linhas
tortas.
Para os professores que sofreram na pele a campanha vergonhosa do PS de
José Sócrates, acusando-os de não quererem ser avaliados no seu desempenho
profissional, é difícil não sorrir perante as reacções destemperadas de alguns
dos deputados menos produtivos da bancada socialista, ao saberem que a direcção
do grupo parlamentar compilou os dados, públicos, referentes ao trabalho
parlamentar de cada um.
E, no entanto, esta "avaliação", ao contrário da que criaram para
os professores, não atribui "notas", não tem quotas para os melhores
nem consequências no vencimento ou na carreira. E também não envolve quaisquer
apreciações subjectivas nem tem avaliadores: baseia-se unicamente nos registos
parlamentares que permitem ver quem intervém no plenário e quem fica calado,
quem comparece às sessões e quem falta, quem se envolve no trabalho das
comissões, apresenta projectos e toma iniciativas. Ou, pelo contrário, fica
simplesmente quieto no seu cantinho à espera que o vencimento lhe caia na conta
ao fim do mês.
Percebe-se que incomode a alguns deputados madraços do PS que se saiba que
pouco ou nada fazem, no Parlamento, para justificar o vencimento que auferem e
a confiança que neles depositaram os que lhes deram o voto. Mas ficava-lhes bem
perceber o quão inaceitável é exigirem para o comum dos cidadãos aquilo que tão
veementemente rejeitam quando aplicado, ainda que da forma mais branda, a eles
próprios.