quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A OESTE NADA DE GRAVE


Daniel Sampaio – estratégias para combater o bullying

O artigo do psiquiatra Daniel Sampaio, com o título IMPOTÊNCIA DAS ESCOLAS, que foi publicado na Revista 2 do Jornal Publico, no domingo passado:

"No PÚBLICO de 13 de Fevereiro, sob o título “Indisciplina”, as escolas declararam-se “impotentes para lidar com alunos problemáticos”.
Há muito que, nesta coluna, alerto para a indisciplina nas nossas escolas básicas e secundárias. Registo o número impressionante de aulas que não são dadas por problemas de comportamento, as manifestações de desrespeito para com professores, o bullying nas suas diversas formas e, acima de tudo, a desmotivação crescente de alunos e professores. Tal como fiz no tempo de Maria de Lurdes Rodrigues, dei morte rápida ao novo Estatuto do Aluno (EA), mais uma vez um amontoado de considerações elaboradas em gabinete ministerial, sem qualquer conhecimento da realidade das nossas escolas.
O artigo do PÚBLICO vem confirmar as minhas suspeitas: responsáveis de escolas, dirigentes de associações de pais e vários professores denunciam a completa ineficácia do EA: o “balanço surge claramente negativo”. Por ex., a tão “inovadora” medida de multar os pais nunca foi realizada, porque as escolas tiveram o bom senso de nem sequer a propor. As “equipas multidisciplinares” referidas no articulado do EA são dadas como inexistentes na maioria das escolas. As comissões de protecção são descritas como não tendo capacidade de resposta porque, apesar do grande esforço que fazem, não têm meios adequados à dimensão do problema.
A morte dramática de um vigilante numa escola de Matosinhos, chamado a intervir para tentar resolver uma situação de grave indisciplina de um aluno “problemático”, trouxe para a ordem do dia esta questão. Mas tardam soluções e impressiona o silêncio do Ministério da Educação (ME) sobre este problema.
Que fazer, perguntam pais e professores, já que aos alunos ninguém pergunta nada, nem eles se organizam para propor algo de construtivo.
Eu começaria por pensar cada escola. Começaria pelos alunos, organizando uma assembleia de delegados de turma e uma comissão de alunos interessados em dinamizar uma campanha sobre o combate à indisciplina e violência no espaço escolar (tenho a certeza de que, em todas as escolas, há alunos interessados). Depois, alargaria a influência das associações de pais, criando um sistema rotativo de ida à escola todas as semanas, para reunir com professores e alunos, de modo a conhecer bem a realidade e ter o compromisso de intervir sobre pais ausentes, chamando-os a participar.
Alargaria a presença da Escola Segura, chamando-a a colaborar com a comissão de alunos e director da escola. Voltaria a estruturar gabinetes de educação para a saúde, abandonados de forma irresponsável por este ME. Esses espaços de intervenção, dinamizados por professores/coordenadores com formação, teriam um papel importante na solução dos problemas de indisciplina e violência, e articulariam com as estruturas de saúde, com relevo para a saúde mental. Quanto aos professores, organizaria estágios em escolas com sucesso no combate à indisciplina e lutaria por acções de formação ministradas por docentes com prática na questão (e não académicos teóricos). Chamaria a comunicação social para divulgar boas práticas, pedindo parcimónia — mas não censura — na divulgação das situações de violência.
Nada disto me parece impossível de realizar, com empenho de todos e apoio do ME e Ministério da Saúde. O que não se pode é continuar a pensar que nada de grave se passa."

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