Luís de
Miranda Correia não poupa críticas ao novo modelo da “educação inclusiva” que o
governo se prepara para colocar em vigor. Este especialista na problemática da
educação especial exprime um receio que também já várias vezes aqui manifestei:
que a inclusão total dos alunos com necessidades educativas especiais, que o ME
defende, venha a pôr em causa a resposta às especificidades deste alunos,
desarticulando os serviços de educação especial que até agora, com a
colaboração dos conselhos de turma e de outras estruturas escolares, a tem
assegurado.
De facto,
perseguir uma ideia fundamentalista de inclusão, que leva a considerar que um
aluno com sérias limitações motoras e/ou cognitivas só estará bem quando
estiver completamente incluído na turma a que pertence, é atentar, desde logo,
contra o direito de todos os alunos “especiais” a uma educação que respeite as
suas características e necessidades específicas. Na verdade, como bem sabem
todos os que trabalham com alunos da educação especial, cada caso é um caso. E
se alguns alunos podem beneficiar com um ensino mais inclusivo – e nesses casos
ele deve ser promovido – outros haverá em que a integração na turma tem de ser
feita de forma mais limitada e cautelosa. E exige – e é aqui que a porca
ministerial torce o rabo – mais recursos humanos para um acompanhamento
efectivo destes alunos no novo contexto educativo.
Miranda
Correia critica também a “descategorização” trazida pelo novo documento, como
se categorizar os diferentes tipos de necessidades dos alunos e as
correspondentes adequações significasse rotular ou, de alguma forma,
discriminar alunos. Tomando como princípio uma igualdade inexistente,
colocam-se ao mesmo nível todas as dificuldades de aprendizagem – as dos alunos
“regulares” e as que se integram no âmbito da educação especial – e impede-se a
construção de respostas educativas verdadeiramente diferenciadas para os alunos
que delas necessitam.
Sob a capa de uma fictícia inclusão, o colunista do
Público teme que o novo modelo venha, isso sim, a “atirar os alunos com NEE
para situações de exclusão funcional”. Dependendo o seu sucesso, em larga
medida, dos recursos que vierem a ser concedidos às escolas para a sua
implantação, uma coisa estará garantida quando e se o novo modelo vigorar: mais
confusão e burocracia, da qual os alunos dificilmente não sairão prejudicados,
e valentes dores de cabeça para os professores envolvidos na sua aplicação…
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