Dia de Natal
Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
É dia de pensar nos outros— coitadinhos— nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.
Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.
De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)
Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.
Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.
Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.
A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra— louvado seja o Senhor!— o que nunca tinha pensado comprado.
Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.
Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.
Ah!!!!!!!!!!
Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.
Jesus
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.
Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.
Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.
terça-feira, 25 de dezembro de 2018
segunda-feira, 24 de dezembro de 2018
E as crianças com a tinta invisível / do medo de serem futuro
Em Cruz não Era Acabado
As crianças viravam as folhas
dos dias enevoados
e da página do Natal
nasciam os montes prateados
da infância. Intérmina, a mãe
fazia o bolo unido e quente
da noite na boca das crianças
acordadas de repente.
Torres e ovelhas de barro
que do armário saíam
para formar a cidade
onde o menino nascia.
Menino pronunciado
como uma palavra vagarosa
que terminava numa cruz
e começava numa rosa.
Natal bordado por tias
que teciam com seus dedos
estradas que então havia
para a capital dos brinquedos.
E as crianças com a tinta invisível
do medo de serem futuro
escreviam os seus pedidos
no muro que dava para o impossível,
chão de estrelas onde dançavam
a sua louca identidade
de serem no dicionário
da dor futura: saudade.
Natália Correia, in 'O Dilúvio e a Pomba'
dos dias enevoados
e da página do Natal
nasciam os montes prateados
da infância. Intérmina, a mãe
fazia o bolo unido e quente
da noite na boca das crianças
acordadas de repente.
Torres e ovelhas de barro
que do armário saíam
para formar a cidade
onde o menino nascia.
Menino pronunciado
como uma palavra vagarosa
que terminava numa cruz
e começava numa rosa.
Natal bordado por tias
que teciam com seus dedos
estradas que então havia
para a capital dos brinquedos.
E as crianças com a tinta invisível
do medo de serem futuro
escreviam os seus pedidos
no muro que dava para o impossível,
chão de estrelas onde dançavam
a sua louca identidade
de serem no dicionário
da dor futura: saudade.
Natália Correia, in 'O Dilúvio e a Pomba'
domingo, 23 de dezembro de 2018
Aos Herodes do mundo
Nasce Mais uma Vez
Nasce mais uma vez,
Menino Deus!
Não faltes, que me faltas
Neste inverno gelado.
Nasce nu e sagrado
No meu poema,
Se não tens um presépio
Mais agasalhado.
Nasce e fica comigo
Secretamente,
Até que eu, infiel, te denuncie
Aos Herodes do mundo.
Até que eu, incapaz
De me calar,
Devasse os versos e destrua a paz
Que agora sinto, só de te sonhar.
Miguel Torga, in 'Diários'
Menino Deus!
Não faltes, que me faltas
Neste inverno gelado.
Nasce nu e sagrado
No meu poema,
Se não tens um presépio
Mais agasalhado.
Nasce e fica comigo
Secretamente,
Até que eu, infiel, te denuncie
Aos Herodes do mundo.
Até que eu, incapaz
De me calar,
Devasse os versos e destrua a paz
Que agora sinto, só de te sonhar.
Miguel Torga, in 'Diários'
sábado, 22 de dezembro de 2018
Todo o tempo num só tempo: nascimento de poesia.
Acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.
Era gente a correr pela música acima.
Uma onda uma festa. Palavras a saltar.
Eram carpas ou mãos. Um soluço uma rima.
Guitarras guitarras. Ou talvez mar.
E acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.
Na tua boca. No teu rosto. No teu corpo acontecia.
No teu ritmo nos teus ritos.
No teu sono nos teus gestos. (Liturgia liturgia).
Nos teus gritos. Nos teus olhos quase aflitos.
E nos silêncios infinitos. Na tua noite e no teu dia.
No teu sol acontecia.
Era um sopro. Era um salmo. (Nostalgia nostalgia).
Todo o tempo num só tempo: andamento
de poesia. Era um susto. Ou sobressalto. E acontecia.
Na cidade lavada pela chuva. Em cada curva
acontecia. E em cada acaso. Como um pouco de água turva
na cidade agitada pelo vento.
Natal Natal (diziam). E acontecia.
Como se fosse na palavra a rosa brava
acontecia. E era Dezembro que floria.
Era um vulcão. E no teu corpo a flor e a lava.
E era na lava a rosa e a palavra.
Todo o tempo num só tempo: nascimento de poesia.
Manuel Alegre, in 'Antologia Poética'
Era gente a correr pela música acima.
Uma onda uma festa. Palavras a saltar.
Eram carpas ou mãos. Um soluço uma rima.
Guitarras guitarras. Ou talvez mar.
E acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.
Na tua boca. No teu rosto. No teu corpo acontecia.
No teu ritmo nos teus ritos.
No teu sono nos teus gestos. (Liturgia liturgia).
Nos teus gritos. Nos teus olhos quase aflitos.
E nos silêncios infinitos. Na tua noite e no teu dia.
No teu sol acontecia.
Era um sopro. Era um salmo. (Nostalgia nostalgia).
Todo o tempo num só tempo: andamento
de poesia. Era um susto. Ou sobressalto. E acontecia.
Na cidade lavada pela chuva. Em cada curva
acontecia. E em cada acaso. Como um pouco de água turva
na cidade agitada pelo vento.
Natal Natal (diziam). E acontecia.
Como se fosse na palavra a rosa brava
acontecia. E era Dezembro que floria.
Era um vulcão. E no teu corpo a flor e a lava.
E era na lava a rosa e a palavra.
Todo o tempo num só tempo: nascimento de poesia.
Manuel Alegre, in 'Antologia Poética'
sexta-feira, 21 de dezembro de 2018
pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
Tu que dormes à noite na calçada do relento
numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
és meu irmão, amigo, és meu irmão
E tu que dormes só o pesadelo do ciúme
numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
e sofres o Natal da solidão sem um queixume
és meu irmão, amigo, és meu irmão
Natal é em Dezembro
mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
é quando um homem quiser
Natal é quando nasce
uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto
que há no ventre da mulher
Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
tu que inventas bonecas e comboios de luar
e mentes ao teu filho por não os poderes comprar
és meu irmão, amigo, és meu irmão
E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
és meu irmão, amigo, és meu irmão
Ary dos Santos, in 'As Palavras das Cantigas'
numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
és meu irmão, amigo, és meu irmão
E tu que dormes só o pesadelo do ciúme
numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
e sofres o Natal da solidão sem um queixume
és meu irmão, amigo, és meu irmão
Natal é em Dezembro
mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
é quando um homem quiser
Natal é quando nasce
uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto
que há no ventre da mulher
Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
tu que inventas bonecas e comboios de luar
e mentes ao teu filho por não os poderes comprar
és meu irmão, amigo, és meu irmão
E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
és meu irmão, amigo, és meu irmão
Ary dos Santos, in 'As Palavras das Cantigas'
terça-feira, 18 de dezembro de 2018
PHDA e a Avaliação inequívoca.
Resolução da Assembleia da
República n.º 311/2018
Publicação: Diário da República n.º 242/2018, Série I de
2018-12-17
·
Emissor:Assembleia da República
·
Tipo de Diploma:Resolução da
Assembleia da República
·
Número:311/2018
·
Páginas:5832 - 5832
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·
SUMÁRIO
Recomenda ao Governo a
aplicação pelos profissionais de saúde de testes de diagnóstico de Perturbação
de Hiperatividade e Défice de Atenção
·
TEXTO
Resolução da Assembleia da República n.º 311/2018
Recomenda ao Governo a aplicação pelos profissionais de saúde de testes de
diagnóstico de Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção
A Assembleia da República resolve, nos termos do n.º 5 do artigo 166.º da
Constituição, recomendar ao Governo que:
1 - Promova um debate amplo, envolvendo a Ordem dos Médicos e a Ordem dos
Psicólogos, sobre a necessidade de aplicação conjunta de várias estratégias e
instrumentos de diagnóstico de Perturbação de Hiperatividade e Défice de
Atenção (PHDA).
2 - Sensibilize os profissionais de saúde para a necessidade de utilização
de vários testes de diagnóstico de PHDA para obter um conjunto de sintomas que
conduzam a uma avaliação inequívoca.
Aprovada em 26 de outubro de 2018.
O Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2018
"Pouco usamos do pouco que mal temos". Ricardo Reis
TESE: "O PAPEL DO TRABALHO DE PROJETO NO ENSINO PROFISSIONAL DA DISCIPLINA DE ÁREA DE INTEGRAÇÃO"
Ana Filipa Vieira Lopes Joaquim
Mestrado em Ensino de Economia e de Contabilidade
Relatório da Prática de Ensino Supervisionada orientado pela Professora Doutora Ana Luísa Rodrigues - Universidade de Lisboa
Imagem: https://ensinoprofissional2018.wordpress.com
"ver as coisas mais além do que alcança a nossa vista!" António Aleixo
A Administração Regional de Saúde do Centro anunciou que vai
iniciar hoje, em fase-piloto, o Rastreio Saúde Visual Infantil nos Agrupamentos
de Centros de Saúde Dão Lafões e Pinhal Interior Norte, dirigido a crianças com
dois anos.
domingo, 4 de novembro de 2018
sábado, 3 de novembro de 2018
"Ultrapassar os limites não é um erro menor do que ficar aquém deles." Confúcio
Daisy Christodoulou
estuda o desenvolvimento do cérebro e o que daí podemos tirar para melhorar a
educação. Veio a Portugal falar sobre a sua especialidade: criatividade nas
escolas.
(…)
Também defende a existência de disciplinas em vez de
projetos. Convença os pais que agora estão a debater-se com Ciências e História
e veem os filhos serem obrigados a memorizar quantidades massivas de informação
de que isto é bom.
O homem que mais trabalhou a prática foi o professor sueco K. Anders Ericsson, que fala muito sobre
prática deliberada. Diz que para se ser bom em qualquer coisa temos de praticar
não só o objetivo final, mas as pequenas partes, o pequeno conhecimento, que
fazem o objetivo final. Se queremos ser bons a História temos de saber algumas
datas. Se queremos ser bons em futebol, não podemos fazer apenas jogos, é
preciso treinar passes. O ponto de Ericsson é que, para treinar uma grande
competência, temos de a "partir" em pequenas partes e praticá-las.
Portanto, no caso de uma disciplina como História, é preciso saber datas, os
eventos-chave, e temos de as lembrar. Há maneiras de o tornar mais interessante.
O grande desafio para os professores não é dar às crianças coisas que elas já
acham divertidas, mas encontrar maneiras de tornar lúdico o que elas precisam
de aprender. Herbert Simon diz o mesmo. Que a tarefa é encontrar maneiras de
tornar o conhecimento o mais interessante possível, sem perder de vista o que é
importante.
A tecnologia pode ajudar. Por exemplo, há aplicações que podem ser
úteis. A minha favorita, e que uso agora, é Anki. Mas há outras. Quizlet, Duolingo, para as línguas. A tecnologia pode
tornar o processo de aprender factos mais divertido. Mas também quero sublinhar
que Ericsson diz que a prática deliberada é, muitas vezes, difícil. Ele fala em
três tipos de prática: trabalho, jogo e treino deliberado. O trabalho é o que
as pessoas pagam para fazermos. No caso do futebol, é o jogo. Na escrita, é a
composição. E às vezes o trabalho é interessante. Mas no meio está o treino.
Praticar as pequenas partes. Ericsson diz que é difícil, mas é necessário e não
aparece espontaneamente. Ele fala muito sobre a música e como ser bom na
música. O trabalho é a peça que se toca no concerto. O jogo é quando praticamos
com amigos. A prática deliberada são as escalas, tocar as mesmas pequenas peças
uma e outra vez para ser bom nelas. O que nem sempre é divertido. Aprender deve
ser o mais divertido possível, mas é preciso ser honesto e admitir que há um
limite. Podemos pensar no que a tecnologia pode fazer e eu estou interessada na
tecnologia, e há possibilidade para a joguificação, tornar mais lúdico. Devemos
tornar a aprendizagem o mais lúdica possível, sem perder de vista a essência.
Para ler toda a entrevista, clique aqui.
quinta-feira, 18 de outubro de 2018
"Mecanismo Nacional de Monitorização da Implementação da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência"*
Criado organismo para
garantir direitos das pessoas com deficiência
Os partidos com assento
parlamentar assinaram esta quinta-feira um projeto-lei que prevê a criação de
um organismo para monitorizar os direitos das pessoas com deficiência. O
Mecanismo Nacional de Monitorização da Implementação da Convenção sobre os Direitos
das Pessoas com Deficiência será votado na sexta-feira.
Notícia transcrita do EXPRESSO DIÁRIO de 18/10/2018
*Nada devia ter um nome por medo que esse nome o transforme. (Virgínia Woolf)
sexta-feira, 7 de setembro de 2018
Por falar em escolaridade obrigatória
Metade dos alunos com idades entre os 13
e os 15 anos, em todo o mundo, passa por situações de violência na escola ou
nas imediações do estabelecimento de ensino, revela um estudo da Unicef.
Leia mais aqui
Tribunal aceita abandono escolar de jovem cigana em nome da tradição
Rapariga de 15 anos frequentava o 7.º ano. Juíza concede que jovens de
hoje sigam “caminhos diversos e igualmente recompensadores que não simplesmente
a frequência da escolaridade até à maioridade”
Leia mais aqui
sexta-feira, 3 de agosto de 2018
Tinha Síndrome de Dawn, um tipo de autismo e uma metralhadora de brincar. Eis uma situação ameaçadora!
Eric Toll tinha Síndrome de Down e foi alvejado numa rua da capital sueca, na madrugada de quinta-feira
Foto tirada daqui |
Polícias suecos mataram a tiro um jovem de 20 anos por ter na sua
posse uma metralhadora de brincar, na sequência do que os três agentes
envolvidos consideraram uma "situação ameaçadora". De acordo com os
seus relatos, Eric Toll não respeitou o pedido para poisar a arma, que os
polícias acreditavam ser verdadeira, e foi baleado.
O acontecimento deu-se na madrugada de quinta-feira em Estocolmo,
na Suécia, depois de Eric Toll sair de casa e ter sido dado como desaparecido
pela família.
À agência de notícias sueca Expressen, a mãe, Katarina Söderberg,
contou que a arma de brincar tinha sido um presente e que o filho era "o
homem mais gentil do mundo".
O jovem foi levado para o hospital mas não resistiu aos ferimentos. "É
impossível entender, ele não fazia mal a uma mosca", afirma a mãe.
Além de
Síndrome de Down, Eric Toll tinha um tipo de autismo. De acordo com a agência
de notícias sueca, está, neste momento, em andamento uma investigação sobre uma
possível má conduta profissional por parte dos polícias.
terça-feira, 31 de julho de 2018
Excentricidade identitária? O nosso futuro próximo é isto?
Devemos banir geneticamente os surdos?
Em 2002, um casal
de lésbicas surdas decidiu ter um filho igualmente surdo. Candace McCullough e
Sharon Duchesneau procuraram assim um dador de esperma surdo. Não viam elas na
surdez uma debilidade? Não. A surdez era, para elas, uma marca identitária
como a orientação sexual. O filho, surdo, nasceu alguns anos depois.
como a orientação sexual. O filho, surdo, nasceu alguns anos depois.
Este é um caso
extremo do politicamente correto ou das “identity politics”. A criação de
“culturas” e “comunidades” por tudo e por nada gerou este caso surreal: orgulho
identitário na surdez. No entanto, se há aqui um excesso, há também um fundo de
verdade. Qual é o limite moral das modificações genéticas? Devemos banir
geneticamente os surdos? A questão não é se podemos ou não, se é possível ou
não. A possibilidade é ou será real em breve. Já não estamos no campo da
possibilidade, mas sim no campo da legitimidade: é legítimo banir ou modificar
ainda no estado de embrião uma pessoa surda? Aqui há duas questões. Primeira,
vamos assumir que banimos, modificamos ou melhoramos os surdos ainda na fase
embrionária. Como é que se sentirão as pessoas surdas ainda vivas? Não tendo a
excentricidade identitária de Candace McCullough e Sharon Duchesneau, estas
pessoas têm contudo o seu orgulho. Apesar da debilidade, fizeram a sua vida.
Fazem parte da diversidade do género humano.
Segunda questão.
Depois de banirmos os surdos, qual seria o próximo alvo? Os cegos? Os anões? As
lésbicas? Um casal homofóbico poderá modificar geneticamente a sua filha se a
medicina descobrir o gene gay? O casal que luta contra o aborto de crianças com
trissomia será o casal que modificará ou abortará o seu bebé gay? Não pensem
que isto são bizantinices. O nosso futuro próximo é isto.
Henrique Raposo (Expresso Diário de 31/07/2018)
quinta-feira, 12 de julho de 2018
Mais vale tarde...
Manual de Apoio à Prática para uma Educação Inclusiva
Tal como se esperava, foi publicado o Manual de Apoio à Prática.
Tirado do INCLUSO. Clique para abrir
quarta-feira, 11 de julho de 2018
O mundo pode ser um palco. Mas o elenco é um horror.(Oscar Fingall O'Flahertie Wills Wilde)
Pelo menos 232 civis foram mortos em ataques das forças governamentais do Sudão do Sul e seus aliados. Há cerca de 120 mulheres e meninas violadas, incluindo uma criança de quatro anos. E há idosos e pessoas com deficiência queimados vivos. É este o balanço que o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos faz em pouco mais de um mês no estado da Unidade, no Sudão do Sul.
Lido no Expresso Diário (11-07-2018)
sexta-feira, 6 de julho de 2018
No centro da atividade da escola estão o currículo e as aprendizagens dos alunos. (Decreto-Lei n.º 54/2018 de 6 de julho)
O Decreto-Lei
n.º 54/2018, de 6 de julho, estabelece o regime jurídico da educação
inclusiva.
O que é?
Este decreto-lei cria as condições para
as escolas serem espaços de inclusão capazes de reconhecer a diversidade de
todas/os as/os alunas/os e de dar resposta ao seu potencial e às suas
necessidades individuais.
O que vai mudar?
Passa a existir um modelo de
aprendizagem flexível, capaz de reconhecer as necessidades, o potencial e os
interesses das/os alunas/os e de contribuir para todas/os serem capazes de
adquirir uma base comum de conhecimento ao longo do seu percurso escolar,
independentemente da oferta educativa e/ou formativa em que estejam
inscritas/os.
Este modelo aplica-se em:
- agrupamentos de escolas
- escolas não agrupadas
- escolas profissionais
- todos os estabelecimentos da educação
pré-escolar
- todos os estabelecimentos do ensino
básico
- todos os estabelecimentos do ensino
secundário.
Linhas de atuação e medidas de suporte à
aprendizagem
As escolas devem definir orientações que
promovam uma cultura que ofereça oportunidades para aprender a todas/os as/os
alunas/os e lhes dê condições para atingirem todo o seu potencial até ao 12.º
ano. Para garantir esses objetivos, as escolas têm de definir indicadores que
permitam medir a eficácia das medidas postas em prática para os atingir.
Os objetivos definidos nas linhas de
atuação para a inclusão são atingidos através de um conjunto de medidas de
suporte à aprendizagem e à inclusão, dando especial atenção ao currículo e à
aprendizagem. Existem vários tipos de medidas:
- universais — para todas/os as/os
alunas/os
- seletivas — para preencher possíveis
falhas da aplicação das medidas universais
- adicionais — para resolver problemas
comprovados e persistentes não ultrapassados pelas medidas universais e
seletivas.
Cria-se um processo para identificar as
medidas de suporte à aprendizagem e à inclusão consideradas necessárias. Este
processo baseia-se em evidências identificadas pelos profissionais da escola
com a participação de:
- mães e pais
- encarregadas/os de educação
- técnicas/os ou serviços de apoio que
se relacionam com a criança ou a/o aluna/o.
Recursos específicos de apoio à
aprendizagem e à inclusão
Os recursos humanos especializados são
essenciais para atingir a inclusão nas escolas. O sucesso desse objetivo
depende da participação de:
- professoras/es de educação especial
- técnicas/os especializadas/os
- assistentes operacionais, de
preferência com formação específica.
Além disso, são criados:
- equipas multidisciplinares de apoio à
educação inclusiva
- centros de apoio à aprendizagem.
E mantêm-se:
- as escolas de referência no domínio da
visão
- as escolas de referência para a
educação bilíngue
- as escolas de referência para a
intervenção precoce na infância
- os centros de recursos para a inclusão
- os centros de recursos de tecnologias
de informação e comunicação para a educação especial.
Que vantagens traz?
Com este decreto-lei pretende-se criar
as condições para que as escolas sejam espaços de inclusão que respeitem a
diversidade de todas/os as/os alunas/os e lhes ofereçam oportunidades de
aprendizagem e soluções para o sucesso escolar até ao 12.º ano.
Quando entra em vigor?
Este decreto-lei entra em vigor no
início do ano escolar de 2018-2019, devendo as escolas aplicá-lo ao preparar
este ano letivo.
Publicada por João Adelino Santos à(s) sexta-feira, julho 06, 2018
Etiquetas: Departamento de Educação Especial, Inclusão, Papel da Educação Especial, Política educativa
quarta-feira, 13 de junho de 2018
Preocupada por chegar atrasada à escola
Era de
noite mas ninguém dormia: o vulcão Nevado del Ruiz entrara em erupção. Em
Armero, interior colombiano, há muito que se temia este momento. A história
terrível de Omayra Sánchez acabaria por resumi-lo. Tinha 13 anos quando ficou
presa sob os escombros da sua casa, após um deslizamento. E esteve assim 60
horas, enquanto os socorristas tentavam salvá-la. O fotógrafo Frank Fournier
captou-lhe a última imagem, mergulhada até ao pescoço no entulho, perdendo e
recuperando a consciência. Preocupada por chegar atrasada à escola.“Ela sentia
a vida a ir-se embora”, relatou Fournier. No passado domingo, a Guatemala
também sofreu a ira de um vulcão. Do alto dos seus 3700 metros, Fuego causou
num ápice 75 mortes. Ainda há 192 pessoas desaparecidas. Quantas Omayras haverá
entre elas? Luciana Leiderfarb
Lido no Expresso desta semana
sexta-feira, 20 de abril de 2018
Salaz, disse ela, referindo-se à cobertura mediática.
O tratamento, que se baseia nos princípios da
homeopatia, é legal no Canadá e custa apenas sete euros. No seu blogue pessoal,
Anke Zimmermann enalteceu a substância, mas acabou por remover a publicação.
Anke Zimmerman, naturopata canadiana,
assumiu, no seu blogue pessoal, ter tratado problemas de comportamento de um
menino de quatro anos com saliva de cão raivoso. A substância é legal no
Canadá, onde pode ser adquirida por apenas sete euros e tem, até, um nome
comercial, Lyssinum. O anúncio surpreendeu a comunidade médica internacional,
que reagiu de forma negativa.
Muitos órgãos de comunicação social
fizeram eco das críticas de especialistas de várias partes do mundo, que
afirmaram que este tratamento não só não traria qualquer alteração
comportamental à criança como até poderia tê-la colocado em risco. Segundo Anke
Zimmerman, a criança teria sido já anteriormente mordida por um cão raivoso, o
que justificaria a sua conduta.
Dificuldades em dormir, um mau
comportamento na escola, grunhidos recorrentes e uma aversão à água seriam, no
entender da naturopata, sintomas que confirmavam que o menino tinha contraído a
doença. No entanto, face à polémica, a especialista acabaria por apagar a
publicação, alegando, para além de uma cobertura mediática que apelidou de
"salaz", "o respeito pela família da criança".
Em entrevista à edição canadiana do
jornal Huffington Post, Phillipa Stanaway, vice-presidente do Colégio de
Médicos Naturopatas da Colúmbia Britânica, confirmou a licenciatura em
naturopatia de Anke Zimmerman e também o facto do Lyssinum, facilmente
acessível através de uma pesquisa em qualquer motor de busca online, ser,
efetivamente, um tratamento legalmente permitido.
O cientista francês Louis Pasteur foi o
primeiro a desenvolver uma vacina antirrábica em 1885. Na altura, além de
extrair o vírus do tecido nervoso de coelhos mortos, que usou como cobaia para
criar o tratamento de vacinação, administrou ao mamífero saliva de uma criança
que tinha sido mordida por um cão raivoso, mas na altura o animal acabaria por
morrer, refere o jornal El Español.
terça-feira, 17 de abril de 2018
"É uma infelicidade que existam tão poucos intervalos entre o tempo em que somos demasiado novos e o tempo em que somos demasiado velhos." Baron de la Brede et de Montesquieu*
QUAL É A IDADE IDEAL PARA ENTRAR PARA A ESCOLA PRIMÁRIA?
(…)
Posto isto, importa
perceber quais são os factores que permitem perceber se a criança está
preparada para ingressar na Escola Primária ou não. E eles são, basicamente,
dois: a capacidade cognitiva e a maturidade.
Capacidade cognitiva
É, sem dúvida, o
mais fácil de avaliar. Actualmente existem uma série de testes que permitem
quantificar o Quociente de Inteligência (QI) das crianças de forma bem
objectiva, pelo que não é difícil perceber se a criança tem “capacidade” ou não
para acompanhar as exigências. Para além disso, com esse tipo de avaliação
torna-se possível também perceber quais as áreas mais fortes e mais fracas da
criança, o que ajuda a estabelecer melhor de que forma aquela criança precisa
de ser estimulada.
Na prática, a
maior parte das crianças ditas “condicionais” acabam por ter um QI que lhes
permite, do ponto de vista cognitivo, acompanhar as outras, pelo que não
costuma ser este o aspecto que mais condiciona a decisão dos pais.
Maturidade
É muito
subjectiva e, como tal, não existe nenhum método muito eficaz para a avaliar.
Depende de muitos aspectos que não se conseguem quantificar, pelo que é uma
área onde são os pais quem melhor pode tirar conclusões. Apesar de ser possível
ter uma ideia geral, nenhum profissional de saúde consegue dar uma opinião
muito fundamentada em relação à maturidade de uma criança. E devia ser
exactamente este o principal discriminador para decidir se a criança avança ou
não…
A maturidade é
algo que não se aprende, pois é “biológica”. Precisa de tempo para se desenvolver
e não se adquire por imitação. Os comportamentos podem-se imitar, mas a
maturidade tem que ir surgindo. E quando não está presente, as dificuldades
vão-se fazer notar. Por muitas capacidades que uma criança tenha, se não tiver
maturidade para entender o que se lhe ensina e o que se lhe exige, os seus
resultados vão sempre ficar aquém do que ela merece e é capaz. E esta questão
pode fazer a diferença entre a positiva e a negativa, como é lógico, mas pode
também fazer a diferença entre um aluno ser brilhante ou “apenas” muito bom.
Assim, em jeito
de conclusão, diria que a regra deveria ser que só entrariam para a Escola
Primária as crianças com 6 anos já feitos. Pontualmente poderia abrir-se uma ou
outra excepção, mas essa seria a decisão mais acertada para a esmagadora
maioria. Não é preciso pressas, apenas respeitar o que a biologia nos diz e os
estudos comprovam. Sei que haverá muita gente que discorda desta opção, mas
acredito mesmo que é a mais acertada.
Todas as crianças
devem ter oportunidade de usar as capacidades que têm e, para isso, precisam de
maturidade e segurança. E, acredite, todas elas têm muitos anos para ser
adultos, mas muito poucos para ser crianças. E atrevo-me até a dizer que é
quase “criminoso” impedir que elas usufruam desses poucos anos que têm enquanto
crianças…
*http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/baron-de-la-brede-et-de-montesquieu.
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