Débora Seabra é a primeira professora portadora de síndrome de Down do
Brasil. Estimulada precocemente desde bebé, frequentou sempre escolas regulares
e, com o apoio da família, colegas e professores, venceu as dificuldades
próprias e os estigmas e preconceitos alheios. Formou-se na Escola do
Magistério em 2005 e é há mais de dez anos professora do ensino
fundamental, o equivalente ao nosso primeiro ciclo. Entretanto realizou
palestras, escreveu um livro de histórias infantis e recebeu, em 2015, o Prémio
Darcy Ribeiro, atribuído a personalidades que se destacam no campo da acção
educativa.
Pois foi sobre esta professora, a vários títulos exemplar, que a juíza
desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal do Rio de Janeiro, se permitiu
fazer comentários que nem sei como qualificar:
Contudo, o comentário acintoso não ficou sem resposta. Sem descer ao nível
da desembargadora, Débora Seabra esclareceu-a:
Eu ensino muitas coisas às crianças. A principal é que elas sejam educadas,
tenham respeito pelas outras, aceitem as diferenças de cada uma, ajudem a quem
precisa mais.
Afinal de contas, a juíza preconceituosa teria muito a aprender com a
professora que tentou menosprezar. Enfrentando um coro de queixas e protestos
da sociedade civil e de organizações de defesa das pessoas com deficiência, nem
o estatuto de magistrada a livrará de ter de explicar a sua conduta perante os
seus pares. Respeitar os direitos e a dignidade de todas as pessoas implica
rejeitar o preconceito e a discriminação. E os juízes não se podem colocar
acima das leis que eles próprios devem aplicar.
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