Como explicar por que é que em nenhum outro dos 35
países da OCDE o abandono escolar no ensino secundário é tão alto como em
Portugal?
Seja qual for o prisma, a evolução do sistema
educativo português está acima de qualquer dúvida. Há mais alunos a concluir o
secundário — a taxa de conclusão subiu de 50 para 82% entre 2005 e 2015 —; esse
crescimento foi o maior entre os 35 países da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico (OCDE); Portugal é dos poucos membros nos quais a
tendência de melhoria contínua de resultados está mais consolidada; os progressos em estudos sobre literacia (como é
o caso do PISA) são insofismáveis, etc.
Subsiste, porém, a reprovação ou o abandono escolar, o
reverso da medalha que importa agora reverter. Em nenhum outro país europeu o chumbo escolar está tão interligado com níveis
socioeconómicos e culturais das respectivas famílias como por cá.
Portugal e a Holanda têm níveis de reprovação altos. Mas enquanto no primeiro
quem reprova é oriundo de estratos económicos e culturais abaixo da média, no
segundo há uma paridade entre classes sociais. Como explicar por que é que em
nenhum outro dos 35 países da OCDE o abandono escolar no ensino secundário é tão alto como em
Portugal? A par deste dado — mais de um terço nos estudantes não
atinge aquele nível de ensino —, o relatório Education at a Glance 2017
refere outra particularidade: apenas metade dos estudantes termina em três
anos o percurso entre o 10.º e o 12.º ano. Como explicar por que é que 35%
abandona a escola sem um diploma, cinco anos após o início do secundário,
quando a média da OCDE é de 68%?
Aquele relatório, relativo ao ano lectivo de
2014/2015, coincide com a chegada ao 12.º dos primeiros alunos abrangidos pela
escolaridade obrigatória até aos 18 anos e, sobretudo, com o período de
intervenção da troika. A desvalorização do papel da escola ou a carência
económica sempre foram factores endémicos do emprego precoce em Portugal,
marcado por uma cultura de trabalho infantil nas décadas de 80 e 90 do século
passado, e não custa aceitar que condicionantes deste tipo sejam explicações
plausíveis.
Sabemos que o percurso escolar determina, em grande
parte, o percurso profissional e os dados da OCDE reforçam-no: os jovens
adultos entre os 25 e os 34 anos, com o ensino secundário concluído, têm uma
menor taxa de desemprego comparativamente a quem o abandona (9% contra 17%).
Estudar faz bem a quem estuda, faz bem às escolas e faz bem à economia.
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