Francisco Mora: “É preciso acabar com o formato das aulas de 50 minutos”
Especialista em Neuroeducação aposta na
mudança de metodologias, mas pede cautela na aplicação da neurociência na
educação
(…)
Mora argumenta que a educação pode
ser transformada para tornar a aprendizagem mais eficaz, por exemplo, reduzindo
o tempo das aulas para menos de 50 minutos para que os alunos sejam capazes de
manter a atenção. O professor de Fisiologia Humana da Universidade Complutense alerta que na educação ainda são
consideradas válidas concepções equivocadas sobre o cérebro, o que ele chama de neuromitos. Além disso, Mora está
ligado ao Departamento de Fisiologia Molecular e Biofísica da Universidade de Iowa,
nos Estados Unidos.
Pergunta. Por que é importante levar em conta as descobertas da
neuroeducação para transformar a forma de aprender?
Resposta. No contexto internacional há muita fome para ancorar em
algo sólido o que até agora são apenas opiniões, e esse interesse se dá
especialmente entre os professores. O que a neuroeducação faz é transferir a
informação de como o cérebro funciona com a melhoria dos processos de
aprendizagem. Por exemplo, saber quais estímulos despertam a atenção, que em
seguida dá lugar à emoção, pois sem esses dois fatores nenhuma aprendizagem
ocorre. O cérebro humano não mudou nos últimos 15.000 anos; poderíamos ter uma
criança do paleolítico inferior numa escola e o professor não perceber. A
educação tampouco mudou nos últimos 200 anos e já temos algumas evidências de
que é urgente fazer essa transformação. Devemos redesenhar a forma de ensinar.
(…)
Estamos percebendo, por exemplo, que a atenção
não pode ser mantida durante 50 minutos, por isso é preciso romper o formato
atual das aulas. Mais vale assistir 50 aulas de 10 minutos do que 10 aulas de
50 minutos. Na prática, uma vez que esses formatos não serão alterados em
breve, os professores devem quebrar a cada 15 minutos com um elemento
disruptor: uma anedota sobre um pesquisador, uma pergunta, um vídeo que levante
um assunto diferente... Há algumas semanas, a Universidade
de Harvard me encarregou de criar um MOOC (curso online
aberto e massivo, na sigla em inglês) sobre Neurociência. Tenho de concentrar
tudo em 10 minutos para que os alunos absorvam 100% do conteúdo. Nessa linha
irão as coisas no futuro.